segunda-feira, junho 30, 2008

Lojas da Baixa recusam-se a alargar horário

O alargamento dos horários nas lojas da Baixa de Lisboa, anunciado em 2006, nunca chegou a sair do papel. A União de Comerciantes justifica a falta de adesão com a inflexibilidade dos contratos laborais e a insegurança nocturna nas ruas.
Sábado à tarde, Rua do Ouro. Contam-se pelos dedos das mãos os espaços comerciais que se mantêm abertos. Cenário semelhante não é difícil de se encontrar nas outras ruas do centro histórico da cidade de Lisboa. Passado ano e meio sobre a proposta da Agência Baixa-Chiado de alargamento dos horários naquela área, nada se alterou. A medida, que abrangeria 1600 lojas, por onde passam diariamente 200 mil pessoas, não passou de uma mera intenção de dinamização do comércio tradicional.
Segundo Vasco de Mello, presidente da União de Associações do Comércio e Serviços de Lisboa (UACS), a falta de adesão deve-se à incapacidade financeira dos proprietários em responder aos elevados custos a que tal opção obrigaria.
"Essa medida saiu gorada, como sairão todas as outras que passem pelos comerciantes terem de contratar mais funcionários para as suas lojas, quando os custos já são elevadíssimos", explica aquele responsável, em reacção a um estudo da Cushman & Wakefield sobre o comércio de rua na capital apresentado esta semana (ler caixa).
"Os contratos colectivos são absurdamente inflexíveis. Por isso os funcionários recusam estender o seu horário de trabalho. Esta é uma das razões", garante, rejeitando a possibilidade - sugerida pelo relatório daquela consultora multinacional - de o comércio tradicional da capital adoptar o espírito de gestão dos centros comerciais. "Os funcionários da Baixa têm 20 e 30 anos de casa e ganham duas a três vezes mais do que qualquer balconista de um centro comercial. De certeza que esses estudos nunca levam isso em conta", sustenta.
"Não aderimos a esse alargamento nem a outro que viesse, porque sair daqui às 19 horas já mete medo a qualquer lojista", explica, ao JN, Graça Doutel, optometrista na Óptica Miramon, na Rua da Prata.
A funcionária do estabelecimento, inaugurado em 1860, não esconde o receio pela alegada insegurança que chega com a noite às ruas da Baixa. "Se mantivéssemos a óptica aberta, de certeza que não viria ninguém, porque esta zona esvazia-se por completo", assegura.
Metros mais à frente, já na Praça do Rossio, João Campos, gerente da Tabacaria Rossio, partilha o sentimento. "Fomos informados dessa intenção, mas mantivemos o mesmo horário e continuamos a encerrar à hora de almoço", explicita o vendedor, que trabalha na mesma loja há 25 anos.
"Em finais dos anos 80 [do século passado], o comércio na Baixa começou em queda. A partir da década de 90, aumentaram as lojas fechadas. Mas recentemente, com a chegada de mais cruzeiros, nota-se que há mais gente nas lojas", admite, por outro lado, enquanto entra na loja um grupo de oitos holandeses.
Para a UACS as principais medidas de revitalização do centro histórico passam por criar condições de estacionamento da clientela e aumentar o policiamento nas áreas limítrofes. "Depois das 19 horas, a marginalidade, que provém do Martim Moniz ou da Rua da Palma, entra na Baixa. É necessário que esta onda seja travada. Já alertámos diversas vezes a Câmara", refere Vasco de Mello.
O dirigente associativo recusa ainda a proposta de António Costa, presidente da autarquia, de retirar o trânsito do Terreiro do Paço. "Falam que as lojas da Baixa estão mal, mas já viu que há 20 anos andamos a levar com obras?", questiona.



in Jornal de Notícias

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