quarta-feira, abril 12, 2006

Entrevista a Maria José Nogueira Pinto

Veio a público o montante da dívida da Câmara Municipal de Lisboa: 1,2 mil milhões de euros. Que comentário lhe merece esta situação?
Uma vez iniciadas as nossas “revoluções”, temos de viver com aquilo que há, ou seja, teremos de saber trabalhar com os recursos financeiros existentes. Claro que seria muito melhor se Câmara Municipal de Lisboa tivesse uma situação financeira folgada, mas a verdade é que não tem. Sendo assim, significa que nós, Executivo, temos de ser solidários uns com os outros na partilha dos recursos. No que a mim diz respeito, tenho grande prática em trabalhar sem dinheiro. Há muitas maneiras de contornar uma situação de estrangulamento financeiro.
Consegue trabalhar sem dinheiro?
Claro que consigo. Consegui-o na Misericórdia de Lisboa, que estava falida e ficou muito rica. Entrei na Maternidade Alfredo da Costa, que passava por grandes dificuldades e ficou muito bem.
O que é que se propõe fazer, sem dinheiro, nos próximos anos?
Temos que olhar para o património disperso da Câmara, que está muito degradado, como uma oportunidade. Esse imobiliário tem valor. Se ele estivesse reabilitado, seria utilizado como habitação social. Como não está e como não há dinheiro para o reabilitar, vou rentabilizá-lo. Com o dinheiro ganho, crio condições para alojar quem precisa. Por outro lado, o Instituto Nacional de Habitação (INH) tem linhas bonificadas para reabilitação urbana e para habitação social. As cooperativas também são parceiros muito importantes. A Câmara Municipal entra com terrenos e assim pode-se partilhar fogos. As parcerias público-privadas são também um instrumento fundamental que o sector público tem ao seu dispor. A par disto tudo, é preciso muita imaginação. Se eu não soubesse trabalhar sem dinheiro, tinha de me ir embora. Voltando à divida de 1,2 mil milhões de euros. É um valor arrepiante…É sempre melhor não ter dívidas, mas julgo que este Executivo está animado por um espírito, que é o seguinte: Temos a dívida, mas não vamos chorar em cima dela. Claro que é preocupante, nunca ninguém escondeu. Mas este é um ano muito importante e o Orçamento de 2006 tem sinais positivos em termos da despesa e da receita. Será, certamente, o início de uma inversão, mas que não vai acontecer de um momento para o outro.
Que avaliação faz da actuação do actual presidente da Câmara, Carmona Rodrigues?
Acho que estão a ser seguidos os caminhos que vão conduzir às soluções. Mas elas não são instantâneas. As pessoas falam da mobilidade, do trânsito e da poluição. O grande problema prende-se com o facto de só 35% dos activos de Lisboa viverem na cidade. Ou seja, das 500 mil pessoas que andam por Lisboa, 65% entram e saem todos os dias. Não é um problema que o presidente possa resolver “do pé para a mão”, além de não depender só dele. O concelho de Lisboa precisa de grandes infra-estruturas, como são os casos da CRIL, da CREL e do Eixo Norte-Sul, onde o Governo tem de intervir.
Deu a maioria a Carmona Rodrigues. Nunca está em desacordo com as posições do executivo camarário?Quando fiz o acordo com Carmona Rodrigues, tive uma grande alegria quando o presidente da Câmara salvaguardou o direito de eu votar como entendesse em matérias de consciência e coerência. Até agora, tal nunca aconteceu.Um dos casos mais graves que aconteceu neste mandato, foi a acusação do vereador José Sá Fernandes, do Bloco de Esquerda, que acusou a empresa Braga Parques de o tentar corromper...Penso que ele foi muito corajoso em ter trazido essa matéria a público.
E a vereadora Maria José Nogueira Pinto, já foi alvo de alguma tentativa de corrupção?
Quando ocupamos lugares de poder, acontecem casos em que alguém nos tenta corromper. Aconteceu-me uma ou duas vezes…
Pode especificar?
Não tenho interesse absolutamente nenhum em divulgar o que se passou. Para mim, foi simplesmente uma experiência. Percebi que, nos lugares de poder, a tentativa de corromper acontece. É uma realidade. Não vale a pena sermos ingénuos.
Acha que se pode ficar rico sendo vereador ou presidente de uma Câmara Municipal?Infelizmente, em Portugal, pode-se ficar rico de imensas maneiras...
Fazer parte de um executivo camarário é um delas?
De imensas maneiras, pelo que é natural que, numa sociedade mais fiscalizada e musculada - no bom sentido -, esta proporção seria reduzida.

in Notícias da Manhã

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home

Grupos do Google Subscreva o Grupo de Discussão do Forum Lisboeta
Email:
Pesquise os Arquivos em Grupos de Discussão no: google.com