sábado, julho 23, 2005

Entrevista ao DN pela nossa cabeça de lista à CML - I

M.ª José Nogueira Pinto candidata do CDS

"Estes quatro anos foram muito maus para Lisboa"
Candidata democrata-cristã arrasa a "desastrosa" gestão do PSD na capital "Vida dos lisboetas tornou-se num inferno"


Por que motivo decidiu candidatar-se?

- Estou preocupada. O declínio de Lisboa deve ser apagado rapidamente. Os lisboetas vivem numa cidade cheia de pequenos problemas que podem ser solucionados.

Quando fala em declínio refere-se concretamente a quê?

- A tudo. Lisboa é uma cidade socialmente fracturada, em muitos aspectos abandonada. As obras têm sido erráticas, sem se integrarem num plano consistente. Lisboa está descalibrada tem bairros muito envelhecidos, bairros de realojamento que foram feitos segundo modelos que já estavam condenados em toda a Europa. E é uma cidade quase fisicamente dilacerada por eixos de penetração que não se destinam às pessoas que aqui vivem. Hoje só 35% dos 500 mil activos de Lisboa aqui residem. O grosso da população activa entra e sai todos os dias da cidade.

De quem é a culpa?

- As causas são múltiplas e remontam à década de 60. Nessa época, a política urbanística para Lisboa foi uma desgraça. E sempre tivemos uma lei de arrendamento péssima. Fogos habitacionais foram destinados a serviços, o que despovoou o centro da cidade.

Recordo que o CDS também esteve dez anos à frente da Câmara de Lisboa...

- Comecei por falar da década de 60 é uma responsabilidade colectiva. Nem sei quem é que presidia à câmara na década de 60...

Refere-se a Santos e Castro, pai do actual líder do CDS?

- Isso foi mais tarde. E ele foi um grande presidente da câmara! A verda- de é que a lei do arrendamento deixou degradar o património senhorios que recebem rendas de cinco ou oito euros não podem fazer nada. Por outro lado, foi disparatada a ideia de que os serviços públicos deviam estar no centro da cidade. A 2.ª Circular foi destinada inicialmente à cidade administrativa, o que nunca se concretizou. Em Madrid, por exemplo, os ministérios foram transferidos para a borda da cidade.

Fala só em problemas estruturais...

- Lisboa tem problemas estruturais!

E como se resolvem esses problemas?

- Toda a gente sabe como. Os diagnósticos estão feitos por toda a gente e não há uma panóplia de soluções inventivas. Podemos encontrá-las em cidades que já tiveram problemas similares e já os resolveram.

Dito assim até parece fácil.

- Não é fácil. Mas não é impossível. O que se discute nestas eleições não é a dificuldade - é a possibilidade. O facto é que os lisboetas estão zangados com a cidade porque acham que ela os maltrata. E a cidade que os maltrata é a Câmara Municipal de Lisboa. A câmara corporiza, aos olhos deles, uma entidade hostil. Se a pessoa pede uma licença para a coisa mais simples, demora três anos a receber uma resposta. Para quem tem um pequeno comércio de restauração e pretende fazer uma esplana- da, esse processo pode demorar dois anos. Estas pequenas coisas transformam a vida dos lisboetas num inferno. Além disso, Lisboa é um estaleiro. Como as obras não têm planeamento, as pessoas podem ficar com um monte de entulho indefinidamente à porta. Se quiserem remover o entulho, não têm interlocutor. Se quiserem contactar a câmara, há um gabinete de atendimento ao munícipe de onde ninguém responde. Eu própria já fiz essa experiência.

Mas é fundamental fazer o diagnóstico...

- Os diagnósticos estão feitos! O Laboratório Nacional de Engenharia Civil tem diagnósticos fabulosos. As universidades também.

Refiro-me ao diagnóstico político. O seu diagnóstico político é demolidor para a gestão de Santana Lopes em Lisboa.

- Estes quatro anos foram muito maus porque conjugaram dois aspectos negativíssimos o total desprezo pelas pequenas coisas que deviam ser resolvidas com rapidez e a falta de um plano estrutural. Santana Lopes fez uma gestão por cartazes. E Carmona Rodrigues também.

Não separa os dois?

- Não posso separar. Das duas, uma ou Carmona Rodrigues não estava satisfeito naquela equipa e teria saído, ou estava satisfeito. Até que ele diga o contrário, entendo que esteve ali de livre vontade, de corpo e alma, num projecto que não é perceptível para a maioria das pessoas. Esse projecto acabou por ficar nos cartazes.

Isso é um projecto ou a falta dele?

- São pinceladas. É preciso pôr os meninos a nadar vamos fazer sete piscinas! São precisas flores na Avenida da Liberdade: vamos lá pôr vasos! Tudo um pouco surrealista. Além daquela tentação de deixar o nome associado a uma grande obra, que se pensou ser o Parque Mayer, quando o que mais temos são espaços culturais infelizmente vazios. E o túnel, que visa abrir outra via de passagem. A grande opção do próximo mandato é esta: mais Lisboa para os lisboetas e mais lisboetas para Lisboa. Podemos fazer um túnel no Saldanha e outro mais adiante, mas o eixo central da cidade fica transformado em quê? Hoje está fora de Lisboa algo que faz muita falta: activos, classe média e gente mais nova.

Como compagina essa visão tão crítica do mandato do PSD com o facto de o CDS ter pretendido coligar-se com os sociais-democratas na corrida a Lisboa?

- O 20 de Fevereiro [dia das eleições legislativas] marcou uma ruptura na direita. Há dois momentos de recuperação dessa ruptura as autárquicas e as presidenciais. Seria sempre razoável e aconselhável que o CDS tentasse a coligação em Lisboa para não dividir eleitorado e garantir uma eleição. Outra questão é eu estar nesta candidatura, que não me obriga a nenhuma espécie de aval a uma gestão que foi desastrosa.

Enquanto houve hipótese de coligação, o CDS apostava em Carmona Rodrigues...

- Na perspectiva de uma coligação, o cabeça-de-lista seria do PSD e o número dois seria do CDS. Eu não estaria nessa coligação que de alguma forma avalizaria o candidato Carmona Rodrigues e a sua actuação na câmara. Mas numa candidatura sem esse ónus de coligação não me importo de estar.

Mas não mostrou também disponibilidade para uma coligação?

- Carmona Rodrigues quis concorrer sozinho. Por isso acho extraordinário que ele esteja já a pensar na governabilidade em Lisboa! Isto quando, à esquerda, existem três forças distintas. Se ninguém se incomoda com um espaço tripartido à esquerda, é de mau tom que à direita haja quem se incomode por existirem duas ofertas ao eleitorado. Em democracia é desejável que a oferta seja cada vez mais ampla. Dito isto, acrescento tenho poder para decidir onde me sento naquela casa, mas não tenho poder para impedir uma coligação pós-eleitoral. Nem o faria jamais - isso é uma questão do partido. Mas terei sempre a minha liberdade e a minha coerência. Estou a concorrer para ser presidente da câmara porque acho que Lisboa ganhava com isso. Mas se só me elegerem vereadora, serei vereadora.

Será mesmo?

- Sem dúvida. Se o CDS tiver uma política de coligação pós-eleitoral, não irei contrariá-la. Mas nessa coligação posso sempre reservar o meu lugar de vereadora. E não preciso de ser mais nada.

Vai enfrentar a acusação de que pode contribuir para a vitória da esquerda...

- Isso leva-nos à questão do voto útil. Mas para quem é útil o voto em Carmona Rodrigues? Acho que não é um voto útil para Lisboa. Os lisboetas não podem esperar dele mais acção ou menos omissão do que já revelou. Carmona Rodrigues é o único candidato que pode ser julgado já ho-je pela sua permanência na câmara. Não podemos fazer isso em relação a nenhum outro.

Esse discurso favorece a esquerda...

- A minha preocupação não é essa. A direita tem feito mais escolhas de mal menor do que a esquerda. O resultado está à vista tivemos dez anos de escolhas de mal menor que consubstanciam o atraso em que o País está. A democracia existe para oferecer alternativas às pessoas. Sempre que eu possa contribuir com uma alternativa e se quem votar em mim entender que eu sou capaz, esse voto é sempre utilíssimo. Não vejo razão para pedir aos lisboetas que abdiquem dele com o objectivo de ajudar Carmona Rodrigues contra a esquerda. Até porque ele não é de direita. E o PSD assume-se, desde o último congresso, como um partido de centro-esquerda. Porque é que um partido que neste momento está no centro-esquerda e um candidato independente que não se diz de direita hão-de querer os votos da direita? Os votos da direita vou buscá-los eu!

Sente-se preparada para ser autarca?

- Nunca me candidataria a um cargo para o qual não estivesse preparada.

(Parte I)

- DN

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